Fragmentos
Criança
Vejo no mundo tanta claridade,
a luz do sol beijando a flor nascente.
Nos corações um poema de saudade
e um pássaro cantando alegremente.
Vejo no mundo a serpe da maldade
Rastejando na alma já descrente.
A escuridão gerando a iniqüidade,
a vida um poço negro, repelente.
Mas, há algo sagrado e tão profundo,
um amor que ilumina inteiro um mundo,
uma estrela de luz e de esperança...
mais doce do que a voz da passarada,
mais puro que uma flor desabrochada:
é sorriso de paz de uma criança!
Trovas
Não subas como um penacho
de fumo que ao céu colina.
Nem desças como capacho
que todos pisam em cima.
Saudade! Flor sensitiva,
a flor mais linda que existe.
Quanto mais velha, mais viva,
quanto mais viva mais triste.
Teu reinado não se alcança
na riqueza, na vaidade.
Num sorriso de criança
é que estás, Felicidade!
TOLLE ET LEGE
Lê, lê tudo que teus olhos virem
e às tuas mãos ansiosas te caírem.
Lê o velho, o novo, o falso, o verdadeiro.
Distingui-los não podes? Então lê!
Se nada nós sabemos, assim, lê!
Desde Homero, Platão, os sábios, os incréus,
os que amaram um deus, os que não crêem nos céus.
Lê tragédias, Shakespeare, fábulas, fantasias...
tudo o que o homem sonha e sofre cada dia.
O ódio de Voltaire à igreja prepotente e
de Torquemada o fogo à alma impenitente.
Lê amor em Lamartine, a "Iasnaya" de Tolstoi.
Quem não chorou com Inez, a "mísera mesquinha"
a que depois da morte o amor fê-lo rainha?
Lê Kafka - o "Processo"
é atual e desumano
ao eterno encogniscível das leis do verbo humano.
Lê Flaubert- o da forma torturado!
o herói da adolescência, por mim o mais amado.
Lê Sartre, o "imortal" sem Deus e sem calor
que omite desta vida uma palavra: Amor!
Lê tudo, irmão! Verás na "História de Papini"
um Cristo que foi grande, foi pobre e foi sublime.
Lê Dante. Lê Rousseau e lê também Karl Marx
da maldade dos povos que o despotismo arrasta
à história social da humanidade gasta.
De Freud a teoria escuta, precavido:
viveste, um dia, a infância, e foi assim? Duvido!
Lê hoje Jorge Amado, o sensual baiano
que a inteligência põe na podridão do humano.
De Trevisan os "contos" de um mundo trivial:
mulher, marido, amante o trio universal!
Lê tudo. Se nada mais te resta:
lê a glória de Paris, Cidade sempre em festa.
A socialista China, a Russia, a Troika unida,
Uganda, Portugal, a Espanha desunida.
Da América ululante vê a água rumorosa
no rio da "liberdade" da CIA poderosa!
Se tudo leste já, pondera na humildade
DAQUELE que pregou um dia à humanidade:
não teve biblioteca, nenhum livro escreveu,
mas tudo que deixou no "Livro Eterno", é teu!
O livro que perdura e a traça não corrói,
o livro que a censura não leu e não destrói.
Se tudo leste já, se tudo já foi visto
e nada compreendeste em glória tão fugaz...
lê sempre e sempre mais
o Evangelho de Cristo,
a única Verdade, a única que existe
e traz à solidão um cântico de Paz.