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Fragmentos

 

educandário

 

a página em branco de meus poemas

a todos que tocaram este altar

 

nossa mãe do céu!!

dá uma vontade de chover devagarzinho

neste quadro antigo pendurado na sala da minha alma

a sala principal

com cadeiras pra receber os amigos

 

a tinta úmida escorrida sempre mais pra dentro

 

as pessoas passando apressadas

não sentem mais o cheiro de eucalipto

nem se comovem com seus abraços

 

ahh!!! cada canto teu!

 

saio vestida com o espanto fabulado dos sonhos

o pretérito mais que perfeito assobiado no meu ouvido

em harmonia atravessada de rios antigos

adocicados como o vinho em cristais...

 

estranhíssima tinta

 

talvez eu nunca tenha saído muito longe das sombras destas árvores

que se enraizaram no peito

amor eleito

 

enroscado em mim o silêncio ruidoso dos pátios que caminho

o tablado em que me encontro nas horas de despir-me das que sempre fui...

 

os livros incandescentes enfeitiçando os passos dançados

dos tempos que me acompanham ao interminável desejo de pertencer

 

não sei se caibo em algum lugar

mas este lugar mora em mim...

eternamente


 

o tempo no espaço

 

há noite e cimento no meu olho de vidro

à noite, o silêncio é maior que o rugido

a manhã cimenta o grito cristaleira

eira renovada a sol por sal

outras canas canais abertos

missões para as missas

miadas de certa moagem


 

têmpera

 

ela roga entre escândalos dos sândalos

que exalam de seu rosário

raízes misericordiosas que se enovelem

por todos os segredos

tato intacto alma nua concreta pra ele

a cintilância que se curva ante o amante

todo despertar é fiança enfiando-se

na agulha do tempo desfeito de amor

aço da têmpera costurada

de esperas


 

artesamavam-se

 

artesanavam-se

lamas chamas pedras

aos tijolos dos olhos

pá lavra cal ar: água

amolecidos sob

o mutismo da tarde

barro e tinta assobiando

pássaros com casas nos bicos

argila para os sentidos abertos

janelas – sol no peito

escancarado entre os galhos

da árvore antiga

do anti-dizer e ser

 

 

janela

 

desejo maravilhamentos

sonhos nas casas sem peles dos abraços

felizes anos-luz por dentro dos nós

sementes espreguiçadas nos olhos

beijo na mão esquerda do amor

intacto e indelével

levantando a saia da vida

atrevida e miúda que nos espera alvoroçada

alvoradas pássaras

 

                                               ao devir!


 

 

ave

 

na parábola dos meus nervos

raivosos de seiva e sombras

grafas ramos invisíveis

engravidados de raízes

arbustos plenos indecifráveis

balé de braile em lanças surdas

sobre a madeira que me veste

 

tuas palavras tatuam meu corpo

circunscreves no umbigo lenhoso

nódoas de entardeceres rosas

ainda úmidas pelos versos

escorridos dos teus lábios

há um livro teu em cada poro meu

 

dança selvagem de galhos

orvalho na pele da palavrardente

são lágrimas melífluas

futuros caindo sobre o tronco nu

adivinhações de omoplatas escorregadias

plantas de pés resvalantes

 

uma semente vertida

miríades de diamantes

no silêncio bendito

leia pétala a pétala

e milagres florescem

no agreste desinventado

por tua língua

imantada na minha

saliva nossa

amém

 


 

 

concreto

 

lambe-a inteira pra sempre

 

morde sua liberdade

entre as arquiteturas versificadas que construírem

de aço e pó

come-a com a farinha dos dias

caídos da mesa

mas não venhas beijar minha boca

salivada pela tinta fresca das horas

extraordinárias

pra enrijecer teu poema concretíssimo

 


 

 

lux

 

um homem constrói sua mulher

pela beira de si, pilares

altares de singelezas

arquitetados de aleluias

 

por milênios dentro

dos momentos

acende colunas e

tonifica músculos

no peito aberto

para o sempre

 

inventa hélices

alianças

amálgamas

 

assim

eternamente

apalavrados

– no franco

caminho

de seus corpos –

despertam a linguagem

intraverbal

que os ultrapassa:

 

“nós

nos

vivemos”

 


 

 

samba

 

lua é pandeirola percutida

no vão da noite incendiada

salto muito alto arrastando o tempo

no molejo melado des com passado

ela, sua, vê...passa a língua na sola

ella, sola, mientras no se olvida... oye

 


 

 

pontinha do instante

 

tenho uma toalha na cabeça

e uma ampulheta entre os dentes

chove dos fios aos vincos

quando corto a boca

e piso nas areias

lambuzadas do sangue

timbrado dos enganos

que engatinham

na pontinha do instante

que está ouvindo

ou vindo?

 


 

 

as grandes metáforas

 

para alcançar Ícaro

é preciso uma dose de pícaro

 

por dentro dos céus de Zeus

há cento e um camafeus

 

acima da alcova de Hades

lambidas e castidades

 

desde os mares de Poseidon

dançam caóticos semitons

 

contra a revolta de Ares

não há quem nos ampare

 

o que se apreende de Hermes

é fértil e goza de verve

 

por todos os lados de Hera

madrugam rasgadas quimeras

 

de tantos limites de Cronos

surge a destruição dos tronos

 

sobre as imperfeições de Afrodite

não há quem acredite

 

quem esperou Prometeu

se fodeu


 

 

 

por um triz

 

quando ele me pega

fora de cena

escorrego no sol raiado

rosa-dos-ventos hasteada

leque tremeluzindo tod’água

vida é segurar por um triz

transversando

enfiando e fiando

a tração sobre os nós

 


 

havia sóis

 

entre os dedos escorregadios

eles se esparramavam

pelas camisetas brancas

das crianças pretas

respingadas de laranja nas beiradas...

 

laranja era a cor de seus sonhos

que traquinavam dentro da biblioteca

toda de vidro

chamada Carlos Drummond de Andrade

mas só conseguia lembrar-me de G. Ramos

e da purificação da escrita

 

uma biblioteca envolvida em vidro

incitava fantasias de transparência

toda aquela claridade...

quanta luz poderia atravessar o espaço?

 

naquela parte tão franca

pensava em sujar palavras

rasurá-las, cuspir nas palavras...

era bom vê-las manchadas de gente...

 

a palavra alaga

a palavra alastra

a palavra gasta

a palavra apaga

a palavra lavra

 

não interessava a palavra enxuta

mas pingada de caos

soprando assaz às asas do verbo

enquanto um passarinho pisava destro

sobre os galhos da árvore amarela

abria e desabria asas

 

quando é dia, desaba a palavra

enlaçada na agulha riscada pelo vinil antigo

 

quando é noite, ascende a palavra aberta

 

a palavra aberta sangra?

 

a palavra assassinada

 

há um vão em cada letra

no peito do poema

há uma palavra morta

 

lembro-me dos sorrisos esvoaçantes

sacodindo os olhinhos amanhecidos

de silêncio e nuvens pintadas

nos jardins dos instantes

 

dentro do alvoroço das idades

cintilavam vazios coloridos

 

há versos pretos no meio da rua

resvalados pelos passos da noite

há versos pretos no meio da noite?

há versos brancos no papel

esbaforidos de meio-dia

versos brancos caminham de dia?

 

os versos incolores vagueiam por onde?

 

a bênção àquele lugar

vinha da frondosa mangueira...

onde, pela primeira vez li Paulo Freire

 

enquanto miúdos brincavam de sol

até espatifarem-no numa vidraça

amarelecimentos escorridos nos cacos de vidro

estilhaços incandescentes aguilhoam

dedos dos meninos

no mais, enublações

cidade sem luz

- se for cristal, chuta

 

nunca mais houve domingos

 


 

 

No meio da terça

 

alguém grita lá do fundo do pátio-presídio. – é apenas um aluno!

alguém grita aqui do raso da vida. – é apenas um professor!

- porra!!! sou eu quem grito!!! – disse ela.

 

Mas as pessoas que estavam ali

não olham nos olhos do desespero

porque as linhas tortas deste rosto antigo

são doses amargas e incessantes de veneno

uma torneira aberta da qual a gente finge não ouvir

a gotinha açoitando a ferida que nunca cicatriza

 

conivência afiada = canivete-pivete

tambor de um só tempo para a mola real

marcha militar esfolando as peles desapiedadas

de biografias preteridas

 

porque não havia domingos

 

 


 

flagrantes colheitas de uma terça de abril

 

aos 4 anos, com medo de envelhecer, Gustavo pergunta:

— tatá, a sola do meu pé ainda tem cheiro de mel?

a vida pode ser mais açucarada do que a raiz

ladrilhada das inaugurações solares?

esse é o aroma da nitidez?

 

farejando a pulsação vigorosa

das bem-aventuranças

os sentidos paridos pela urgência

insurgente

captam o brado sóbrio e elegante do infante:

— eu acho que já virei gente!

o que viria antes disso? o que virá depois?

e as gentes rodam rodam, mas demoram a se tornar.

 

glórias às crianças, que viram e veem!

 

 


 

das conjugações

 

o Mar umedece:

- Mãe, olha meu milagre! é de verdade!!

 

a luz encharca os que veem os segredos das fadas

deslizantes no tobogã ascendente

dos olhos pueris

poeira de estrelas

 

ele cria...

 

você crê?

 


 

ele se leva

Diego

pinguinho de gente

gota de tinta fresca

joia, pingente

semente, fruto desta

casta, casca sacra

gema valente

milagre que acende a festa

 

 

ele se leva de encompridar nos gestos

e me lava a rir de mil modos trans#bordados

seda com pontos ora frouxos ora apertadinhos

entre um lado da espinha e outro vazado pelo olho esquerdo

ascende para o voo ornamentado na estação de cor da bamba

 

aperta meu bico como se sugasse o elixir do amor

e o amor é esse alto da colina, por onde sai leite, água, calor dentro do abraço

para onde se vai no instante do querer precisar

ele se molha ditoso fazendo algazarra com as lágrimas da água

caem gracejando todas de sua pele nuvem propícia

 

ele pisca como se beliscasse a quinta nota a ser burilada

cata-vento do tempo a ser feito por seus dedos miúdos

pés são pães frescos a ensaiar os passos

ele grita aleluias e nascem hojes dos seus olhos e poros

o caminhar é esse levar-se que me deixa à sua espera

 

sou a espera e auxilio os primeiros passos da esperança

esse corpo afoito e novo que desconhece a imperfeição

veio a humanidade adivinhando

essa pessoa toda pureza tem os braços abertos e eles são

certeza de alcançar o sublime e vai tocando

 

ele ri como se descortinasse as janelas esvoaçantes dos peitos

tímidos desembrulhando a fé como presentes inventados

ele é meu poema mais concreto e nós somos imagens projetadas

em anagramas rearranjando palavras para um lirismo melhor

 

um mar de lama assola como quem ama

lambe tudo o que era [ ] borracha nas construções

ele é argila magia a ser manipulada com poções do pó de ser

e há

 

 

às crianças de Alepo

 

por favor, chorem por nós
os desgraçados
chorem por todos os tolos
uma lágrima que seja
como um destroço de tudo
o que têm visto e desvisto
por todos os fantasmas

o monstro é esse carregar
desumano de desenganos
em ganos secos inférteis
como a varinha desengonçada
de feitiços emocionados de sangue
e pó

um dó, Senhor, a quem nota
a miséria de todas as nossas
almas
um dó maior ainda às crianças
que nem chover podem em si

 

 


 

é preciso calar

 

é preciso calar os silêncios

inflamando as urgências

é preciso colar

as distâncias

é preciso colher

pra cada fome secreta

é preciso colher

o que plantou seu pé

 

cada calo é

escrito em língua morta


 

Do livro : a palavra é

 

 

 

 

BAJO, Beatriz. : a palavra é. Ed. Kan e AtritoArt. Londrina-PR: 2010

 


 

V

 

todo toque é ânsia

ganas de extenderse en el otro

 

inverter-se

 

reverter-se

 

imantar os meneios nos seios do mundo

que inaugura os solos férteis

 

das terras alheias do mim

 

sólos

 

nosotros no existimos

 

fora dos espelhos que salivam

os ramalhetes

 

nada mais são que

braceletes

 

iridescente amplexo de primavera

 

no verso mais abotoado do ser com o sempre

 

todo madrepérola

 

calcária lembrança

 

que concebeu o amor, gema de timbre específico

atingindo a frequência

 

honesta da esfericidade singela que embala os vínculos

 

na cadeira de manso tremelicar

 

que aprende a certa dedicação

 

ao tempo de não desejar

 

em marfim

 

revelando películas en negativo

hasta los séptimos rascacielos

 

de peligrosos adornos

 

hechizados

 

por los señales

 

do latim ensopado

 

de arremessar sentidos

 

para todos os ouvidos

 

no colo do fim

 

da imperial tessitura

 

na teia de toda lisura

 

que permanece

 

carmim

 


 

VIII

 

quando há chamas na lança hasteada

 

qualquer singeleza

 

é pavio

 

vence o rumor fricativo de todos os sinos

no cio

 

nocivos solares

 

sola-firmamento

 

o andar é cimento de si

 

casa pra fora

 

o pé é

 

medida exata

 

de ventana abierta por lo siempre

 

que sigue con panoramas renovados ininterrumpidamente

 

a cortina imita uma água viva

 

cayendo por el agujero

 

dos mais sinceros melindres

 

que alcançam o tornozelo

 

dobradiça de lucidez que atiça

 

profundidade molhada

 

que se precipita por medio del encantamiento

 

cábala sob el tapiz

 

evocando os mais brutais silêncios

 

por onde terça a planta

 

que prospera divagando

 

como a fera

 

bajo la luna

 

ferradura

que engravida seu passo

 

rasgando os papéis de mansinho

 

como si

echase sello en los suelos de los laberintos

 

llanto de río encurtido

 

refrescando pegadas

 

de todas as sanhas que fabricam

 

música de calcanhar

 

que mancha ritmos

 

advindos do fogo sagrado

 

que pisa no céu

 

mero telhado

 

coberta de

planos oblíquos

 

vertidos pelos bicos

 

do mais permanente

 

entardecer

 

 


 

Do livro a face do fogo

 

 

 

 

 

 

BAJO, Beatriz. a face do fogo. Ed. Annablume – coleção Demônio Negro. São Paulo: 2010


 

 

Depoimento

 

ler-te é outra vez te ter bem perto

sinto-te em lamento

palavras de antes,

borradas do sangue que

de

r

r

amas

pela alma

abaixo

sobre as linhas de teus cadernos secretos

gozo de encontrar-te por entre os versos

das minhas esquinas que cruzam teus contos


 

 

árvore branca

 

...é ao caminhar que se catam pedaços de vida. Como se na quietude do passo, aproxima-se a um espaço ainda não percorrido para dentro. Quanto mais se anda mais se entra. Mas não me dava conta disso ao praticar a flânerie de meus anseios de mais vida. Era uma busca pelo corpo saudável para purgar a nicotina das noites em tragos. Sete voltas pelo aeroporto assim como quisera pisar numa asa por descuido para que os pés chegassem, acaso, onde sempre esteve minha cabeça. Quiçá o objetivo fosse, realmente, esse de cuidar por um equilíbrio insano de lançar-me aos céus inteira e comungar com sonhos de pássaros. No entanto, não dei por esse juízo e permanecia às voltas, como um cão, atrás do meu rabo para que pudesse dirigir com habilidade minha fantasia de voo. Acompanha-me sempre a maternidade porque necessito do pertencimento em meio à orfandade da rua para tornar-me mais complacente e misericordiosa. Também para religar-me à eterna gravidez das calçadas. E assim caminho à margem. Testemunha ocular de sempre em redoma com meu passo à beira. E dessa vez em que tropeçava em minhas nodosas raízes, a árvore branca me encontrou. Branco o meu desejo de tarde grisalha. Retrato de nuvem. Brincava de nevar comigo em pálido sorriso, quase líquido. Babava em pétalas. Distraía-me de encostar meus pés ao chão. Vacilava de terra pisando em pedaços de seu leite floral. Escarnecia-me quebrar galhos sem rimas em nossa conversa ramificada. Um pano de fundo enciumado se rompeu em antiga lágrima que me grita. A flor branca entrou sob os tênis de pés apressados em não ver. No terceiro passo, virei-me na tentativa de adiar a partida ou — quem soube? — despedir e voltar ao entorno. Não a enxerguei. Porventura jamais a alcançaria novamente. Um poste, uma nuvem, talvez um desejo.


 

fogo-fátuo e os cordéis de encantamento

 

Era rua agora. Bisbilhotices em roda de gentes pela casa da comadre. Minha mãe infiltrou-se na residência como um falcão peregrino, fazendo levantar os vestidos atrevidos das vizinhas e a surpresa despeitada dos homens que tumultuavam pelos arredores da casa. Foi então que a estupefação alcançou suas pernas quase cedendo o chão aos joelhos. O desespero enlaçado entre mãe e filho, amplexados em meio à cena aterrorizante.

Eu tinha uns 6 anos, lá no início da década de 60, quando iniciei a minha coleção de histórias de família nordestina. A grande migração para sampa advinha do auge da construção civil. Cada tijolo era um parágrafo dos grandes contos edificados em cimento e ped-aços de grades que começavam a arranhar o céu da minha cidade que já se acinzentava.

Eram de Recife João e Virgínia — paulista que se preza metonimiza torpemente todos os nordestinos a baianos — e, como rochedos à flor da água, abeiraram-se na rua perto da cachoeira, ou seja, próxima a nossa casa. O homem de vincos em torno dos olhos, como se tivesse observado a vida com firmeza aguda, carregava a aspereza da mão que prepara o chão da alma, montando o teto das ideias e erguendo as paredes que direcionam os desejos alheios. Tinha como ofício amassar barro o pedreiro; ela, senhora da casa, arriscava-se às contas e aos pontos que se costuravam em meadas com fios de fábula a alguma vizinha que carecia de fatos.

Nos arrabaldes encontrávamos e desencontrávamos todos nós, que recheávamos qualquer habitação. Um revisor de jornal que ouvia óperas pelo rádio, distribuía balas para a molecada e voltava sem quinhentos réis para casa era o marido da minha tia, que possuía mãos de sempre fada e nunca dor de cabeça. O casal era pai e mãe de uma filha de maria, a prima de voz acanhada por não ter boca pra nada. O irmão da tia era o meu pai, um caçula de outra grande família. Talvez por isso, planejava uma filosofia hippie de vida, caçava rãs e amava futebol, tinha pernas arcadas combinadas a uma boina. Piscou verde para seduzir minha mãe. Bem, esta era a dona das histórias todas. São através dessas veias que nas minhas corre a fibra das mulheres que admiro. O amor fabricou o primogênito que cedeu lugar para a gêmea da minha alma que me viu aparecer roxa de tudo — resto de tacho — confirmando assim as contas brilhantes do terço da parteira. Assim, Maria. Vim metendo o pé no mundo. Aparecida.

Éramos oito pessoas que descendiam de italianos. Isso significava macarronada aos domingos, conversas atropeladas por muitas vozes e gestos expansivos com as mãos. Enfim, transbordantes e calorosos. Quando dei conta, meu povo era amigo do casal baiano...ops, pernambucano.

O tempo, à espreita, testemunhava o primeiro filho de João e Virgínia assim como nós, que nos deparamos com os olhos acesos de quem principia a buscar, a pele fina porque sem corte e a mudez típica de aprendiz. Josias Valci não combinava com o bebê porque quem ouvia o nome e olhava-o, notava que o menino tinha mais letrinhas que corpo. Seus pais tinham, realmente, um gosto engraçado e extravagante. Fui cuidando de perceber que faziam uma combinação, muitas vezes sem sucesso, de nomes compostos que traziam as iniciais J e V.

Bem, Josias foi dado ao primeiro sacramento. A partir daí, meus tios eram padrinhos e ele afilhado. Além disso, entre os adultos, por conta do vínculo, passaram a tratar-se de comadre e compadre. Muito mais pra frente é que entendi porque mudavam de nome depois da festinha na igreja. Piscamos e os anos passavam grandes, como pulando os degraus da vida.

E quando Josias-homem vinha para comemorar o natal conosco, trazia uma garrafa que, na verdade, parecia com o vinho que a gente tomava (bem, eu saboreava-o aguado e com açúcar) e meus tios enchiam a boca com o tal vermute para falar que ganharam um Cinzano de presente do afilhado. Sempre o padrinho brincava chamando o garoto de lampião e era um acanhamento de bochechas avermelhadas que eu nunca entendia. Josias já tinha mais três irmãos, o JV magrelo de mãos compridas e longos cambitos, o JV cabeça mais chata e Julião Veraldo, o pequeno.

Minha mãe poderia ter seguido muitas profissões, porque nasceu com o dom de adubar o mundo. Além de genetriz e professora da criançada toda da rua, tinha uma mão pra tratar dos bichos que só vendo, ainda comprometia-se como uma enfermeira de primeira. Era ela quem tratava do umbigo das crianças e cuidava da comadre durante as gravidezes e depois dos partos.

Tudo se encaminhava à criação dos filhos que já largaram as mamadeiras há um tempo, embora alguns estavam jogando os dentes de leite no telhado e em outros já se via a penugem de uma barba. Às vezes, na minha casa, que ganhava em quantidade e em mulheres, comentávamos dos hábitos diferentes e do carinho que sentíamos por eles.

Vez ou outra Virgínia era visitada por dois irmãos que vinham da mais antiga capital brasileira. Um deles, lembro-me, tinha o nome de Antônio, um galalau que mangava de todo mundo. De índole extrovertida, dizia sempre “avia xodó” e adorava distribuir cheiros por toda parte. Exibia a sanfona que se curvava toda em gemidos de saudade. Tonho, então, cantava pra irmã um forró que acalorava a rua inteira enquanto os outros dois manos ensinavam o pessoal a dançar o bate-coxa.

Nunca deixavam de passar as festas de São João perto dos parentes da terra da garoa e a espera pela chegada deles era de um entusiasmo de levantar defunto. Virgínia espalhava a notícia pela vizinhança e corria para deixar a casa brilhando. Assim, como era o hábito da época, ela, nessa ocasião, cismou de encerar o chão. Evidentemente, porque era muito humilde, na sua dispensa só havia o necessário, não podia se dar ao luxo de comprar produtos supérfluos com facilidade.

Ainda hoje, angustia-me a recordação dessa cena e do quanto o instante é passível de fatalidades que não se consertam. Em meio ao grande furdunço de vozes e braços e lágrimas do céu paulista, orgulhei-me da coragem de mamãe — foi assim que iniciei minhas concepções acerca da fragilidade humana — ao agir bravamente diante da desastrosa lambida.

Virgínia...bem, com a ingenuidade dos simplórios, na tentativa de que a cera rendesse, procurou derretê-la em lata que ardeu toda de labaredas ágeis em distribuir suas cores. O desespero arremessa a lata ao quintal que veste o pequeno. Julião parecia que corria ao encontro de boitatá. Seu corpo inteiro dominava o fogo que mais se matizava em volta de seus olhos de fera enlouquecida.

A dona da casa que aclarava a noite chuvosa, entre tantas outras que banharam a vila durante a semana, ainda tentou afugentar as chamas e urrar pedidos de socorro. Foi quando mamãe chegou com a lucidez dos heróis para rasgar as roupinhas do menino e enrolá-lo num cobertor. Mas fogo-fátuo, vestido de todo o azul, concedeu o reino da luz a Julião, que era brilhante demais e ascendeu. Apesar de encharcar os corações de sua família, desde então lhes guia com sua claridade de eleito.

A comemoração da festa de São João não foi das mais dançantes na rua perto da cachoeira, mas eu olhava a fogueira com tanta fascinação e podia jurar que Julião ria entre uma fagulha e outra, traquinando brasas noite adentro sob o xote que abençoava as pessoas que teciam seus trapos com novos cordéis de encantamento.


 

 

é alma

 

é alma

a febre de corpo

temor de esquecimento

é alma - junto com a tua -

o voo cai em delírio

@laúde como abraço

leve - em lava - alma

a deslembrança é o corpo a mentir a febre


 

 

pintura expressionista

 

você tem uma agulha na língua

a cada lambida, rasga minha inteireza

e eu, esquartejada, insisto em que

feche os olhos e despedace-me mais profundamente

até tirar-me toda a pele. Assim, posso

inundá-lo completamente com meu rubro

desmazelo de enquadrar-me, sem moldura.


 

poema secreto

 

as pálpebras caem sobre as minhas palavras
encastelas pelas tuas

 

um piscar de olhos é todo silêncio abraçado

 

cada lágrima é um poema secreto

gota

a

gota a tatuar imagens no chão branco

novas poções, açudes.


 

pesada

 

                                                                          a Mar Ariel

 

 

o mar tem um pé que dorme e é avesso

ele o agita com despeito do sono

o que é o sonho do pé? Talvez mais chão

o chão de fabulações em que se

pisa sendo e que não incisa a sanha

 

mais perto das plantas brotam incêndios

 

ahh...bom meter o pé no que amanheço

e caminhar sangrando todo outono

que desfalece no dobrar dos joelhos

os joelhos como que íntimas maçãs se

encolhem temendo o abocalcanhar

 

do que se consome onde permaneço

e mais sangra de lamber o que espiono

as carnes abertas que rasgam o verbo

 

mais perto das plantas brotam incêndios

 

onírico é o tempo em que me insiro

tropeçando no que desacredito

e chutando as palavras goelas abaixo

 

 

é preciso apressar o pé que dorme

 

 

há que se andar


 

comer borboletas

 

1/2.

cada beijo é como comer borboletas

para que as matizes de dentro se libertem, se debatam

no assanhar das asas

entre os predicados que traquinam no diafragma

que raia em transversais contrações

ventos adverbiais

 

1/3.

Assim que se deitou

Sobre meu pé tão delicadamente

Trouxe-me algo de fenda

Algo de talho, latente

Entre os batentes da minha janela

Adentrando pelos basculantes

Roendo os batentes

 

2.

O dia inteiro nascia dentro de mim


 

Dança

 

sempre o que há de mais quente é o que escorre e entra
é que a febre do teu nome avança pelas calçadas

e contemplo a senha

pelas fresta das portas que serão abertas

por pés descalços

 

enquanto me embaraço em pernas

que procuram arrebatar as fissuras do salto

no chão que espera a dança

e arrisca o vão do asfalto

 

A ironia da vida está no instante em que se cala.


 

 

a

 

o amor é cheiro doce de almíscar,
quando me sacrifico em gozo sob o sol
azeitando-me na quentura da saudade tua

maldição que entorpece minha carne
crispa a linha do meu tempo, estremece
quero heresias ao pé do ouvido

na minha pele impregna bálsamo
meu Al, significando o que amo
permita-me ser tua blas(fêmea)

meu grito é todo por ti...


 

 

e amo do sempre como no silêncio que

lambuza o ventre te queriaconchegado na

primeira nota órfica da minha bolsamniótica

que te conserva neste nosso cenário imperfeito

e insuportável mas docementembrionário que

perdoa insensatez e pode sorrir nos tropeços

te amo do íntimo quando palavrasão

descabidas não se encontram coa memória do

peito dentro da linha preciosa da vida questá

se cozendo entre o tempo e a língua e só sabe a

medida salivada da benquerença desastrada

nascente mordida no sol me incandesce a boca

todo o céu ao revés como na alma um anzol

fisgand o instante-semente na hora do

esquecimento tudo em latente intensidez ainda

com o coração-operário meu amor por ti é

gravidez


 

 

o sem-dia anterior para a cura

o posto de saúde é uma caixa de música aberta, tocando tristezinhas em negativos aos olhinhos arteiros das crianças a magreza em lenta e trêmula mão nos documentos, o gorro e a cadeira verde de plástico os avisos de prevenção do corpo, as campanhas banheiro sem papel os vidrinhos quadriculados as conversas fiadas ruídos e tosses as cores o balançar dos pés em desoladora espera - você tem língua? mancar é um estar no quase. raios-x de riscar esperanças e fósforos que não cabem nos bolsos


 

 

atrito gravidez
d' sangue e d'água
flor do umbigo
nosso dasein
d' instante


 

lis-no-peito

 

o corpo vibra em meio aos segredos gelados dos ventos londrinenses que insistem em atacar os notívagos solitários e assim vai se firmando a intimidade tímida, entre eles e a cidade o tempo trincando ...é bonito o que se conta em palavras que acertam os ponteiros de dentro...ou os faz perderem-se de vez...o entre-quebrando de uma leitura em tempo de corte! ...ventando em quatro dentro do meu quarto...de algumas horas... é inteira a fenda nos olhos que esguicha a vida saberei tirar as vendas de fêmea alma com os resquícios do que tenho acompanhado de mim...lis-no-peito


 

 

é que me livro

 

é que me livro

pelas riscaduras na pele

despudorando o verso

ventre

me livro quando rasuro o tempo

nos poros de mim

desdizendo a ocara tão oca

caricata da prosa

semeando a pétala rósea alfenim

asas de alecrim

 

me livro

nos vãos mercurianos

que sangram de vagar

amiudados pelos lados errados

de sete mil tréguas

acinturadas das fodas

bem dadas entre o açoite e a

noite

me livro entre o enxerto e o medo

e a foice

a cavalgada e o coice

 

me livro

quando chega o vento e

sacode os papéis

no excitamento dos pincéis que lambuzam

minha pele branquíssima

missa míssil

escuro-me no livramento do desejo

mais bem dito da boca, do bico

entre o gemido o grito e o irrestringível

 

me livro

quando encaro o olho da rua

e ela ignora meu viço

atro^pelando as carnes retardatárias

que não acompanharam o alvorecer

maceradas de alumbramento

interstício pichado no cimento

silêncios atravessados das vidraças

areia e árias

 

me livro

no quase e tremo

atrás dos vitrais mais sanguíneos

na consequência sem trema e

acentuada que arvora sob a artéria e o limo

 

me livro

na hóstia que a(s)cende

o dia ensagrado e acena pras

minhas quebradas verdades

verdinhas de sempre dissecadas

na umidade que me chora e lambe

as idades na masturbação que arde

 

é que não rimo

na rouquidão dos anseios

sem línguas desprotegidas nas

sanidades de frágeis mortes

me torturam as opacidades

as sobras e a sorte

e que me cortes

em fendas lineares para

te tornares a mais beijada

estrofe

e me descalço e dispo

para caber esvoaçante

no teu peito

livre

é que me livro...

 

palavras

 

palavras de amor

somente suaves toques

apenas escritas com pena

apenas palavras

 

 

esturricando

era um cheiro de queimado que vinha sei lá de onde. não houve festa nos vizinhos, em casa muito menos. era um churrasco de flores sob minhas narinas. algo estava pegando fogo...eu sentia. esturricando. tudo igual lá fora. tudo diminuindo dentro. não havia estremecimento entre os corpos serenados pelo tempo que pisca. fumaça rondando o que se fazia de mim. nenhuma brasa, nem chamusco, nenhum fósforo aceso. fui dormir assim...sem saber de onde vinha aquilo...só sei que acordei com o coração desse tamaninho.

 

 

O esquecimento é um senhor bem asseado

 

O esquecimento é um senhor bem asseado, limpíssimo, que usa camisa regata branca para enxugar o suor das recordações peludas e grisalhas. perto do peito. e para posar o bom comportamento da memória que vaga em vinho colete. assim, o terno elegantemente acinzentado, bem clarinho para engendrar a desconstrução do que fora tijolo e cimento. poço...poço...poço...vão buscar no povoado de Santa Maria de las Três Iglesias...algumas pessoas que revelem o porquê do nome da cidade que não significa. apadrinhada por São Sebastião, venerável soldado do sem-tempo, dentro dentro dentro Santa Maria desapareceu num incêndio e tudo o que deslembrar é cinza de ideia, para compor com o terno. alinhadíssimo. muralhas de vento que enrugaram os músculos do senhor que ora chora a pena de brancura. antes sempre. madeira no caráter. paróquia da alma no povoado construído pelo coração que não enferruja, descoberto. corando as sementes plantadas nos quilômetros quadrados do pensamento que se livra. o incêndio que penetrou as entranhas da terra de alguém queima os manolos miolos com a argêntea certeza de que será construído um poço, porque há vestígios de terra nas unhas, há esvaziamentos, há quedas, mas ainda o senhor se agarra no pontinho verde, entre as pedras, mantendo seu corpo na mesma posição.

 

 

Há um livro entalado nas minhas veias

 

Há um livro entalado nas minhas veias, retangulando o processo entre as páginas encharcadas do que eu sou que nunca nem vi nem toquei. entupindo o fluxo contínuo do que seria uma vida tranquila. mas ele está lá, engrossando meu caldo, aqui, um pouco acima do ombro, quase no pescoço. jugular de veia avessa. se uma mordida existisse, poderia na surpresa, engolir uns pedaços de papéis ensanguentados. artérias que percorrem a circulação do que atravanca. não se respira não se respira não se respira. o cheiro dos livros desperta o corpo do que vaga na terra do outro. uma maneira de alimentar-se de palavras a serem segregadas e atuarem no alargamento do pronome inusitado, último. Uma tentativa de aproximação? distância aquém das substâncias manipuladas dentro do instrumento inábil. periódico. finito. aquele gosto de cabo de guarda-chuva que fica...sangue pisado.


 

espera

 

bom te ver me vendo

feliz momento em que me lê!

quero manter frágil

cordão enroscado pela sempre tensa palavra

cuide de mim em suas orações

que se rompam as grades quando agradeço

e que mais desço e mais transmuto

em digladiando com elas de mim

guerreiras histéricas e eufóricas

corações partidos são asas quebradas

sonhos decepados

 

 

 

 

...rubro desmazelo entre-quebrando a asa da palavra...

 

é tinto o astro que cansa de vagar

sobre o penhasco enroscado do verso

carrasco da palavra torta que corta a folha

da melhor estória

cabaça rebentada no talo do momento

as loucuras traquinando entre os gemidos

até a mordida mais rouca das estrelas no céu da boca

despencando todo certeza esfarelada

ofuscamentos enforcamentos

que não alcançam os pedidos ebulidos

pretéritos bulidos de delírios

de lírios que foram colhidos com os mesmos dedos

suaves, contando os apagamentos do sol engolido

que vai rasgando a garganta das frágeis memórias

estremecendo os vazios assombrados pela chuva que não se vai

todo o firmamento se curva aos silêncios brilhantes do tempo

que mora na insensatez dolorida

como um delicado sangramento

grudam-se as peles eriçadas

e todos os eles são longas lambidas

laterais medidas de encaixe

que vão gastando as salivas e os peitos

doces recortes quase mosaico decote de eus

tão nus, entornando os desejos

nos meneios, nos seios do instante que se enrugam

esvaziando os sentidos róseos de todos os nós

dentro da sala de espelhos

 


 

Antes

 

Com  o coração hermeticamente aberto como um açougue metafísico durante os sete dias de um domingo interno ou imaginário, como qualquer outra ideia que tenta sem sucesso enlaçar o tempo que já havia antes do ser, cancelaremos todos os sentidos antes do verdadeiro fim e abraçaremos as asas da singela brisa acordada que nos excitará com o frescor dos instantezinhos que saltitam pela íris e coçam-nos de alegria, como passarinhos entre os dedos vibrarão as auras de assanhamentos corados pelo solar momento da separação entre a visão do mundo como um quarto e  a recém-chegada  e logo esquecida sensação incompleta de sair de um sonho com o coração hermeticamente aberto como uma aura aterrada dento do sétimo dia do talvez, estaremos amalgamados no ventre de todos os versos suspirados e não ditos antes da boca que engolirá os pseudo-beijos do real como a chuva engole o vento e dissipa arrepios no entendimento dessa paisagem incendiada por nossos olhos.

 

(com Marcelo Ariel)


 

A face do fogo

 

se flor esta.sem cor na vertigem

do botão que não resvala

por dentro

é a esmo o que

desbota des.com prometido

com a seiva anterior

que abraça o gosto

mentolado do instante

despetalado

todo corola em cor

verve primitiva

vertendo

a face do fogo

alhures arvoredo

no limiar do passa

redo em mim

Fenda Laminada

que Ondula o Rasgo

Estranhamente Sublime

o tempo é faca

foi-se a foice

flamejante

talhando arestas

esquinas sequiosas

ovário de lírio

orvalho

que sangra

que singra

como tu sóis

. quando tu fores

flores de alecrim

te perfumarão

em lençóis segredos

girassóis

 


 

nota de fim

Notas de fim:[i]

Local.

f Devia ser s.ubstantivo m.asculino que endurece e oferece os remates aos cantos. Mas não há disfarces às quinas sem substância/ estrangulada do que seria o centro./ Madeira boa para aparar o que termina, mas ordinário é o raso que não se apóia e roda roda roda meio da página sem pé sem estampa sem inferência.

[ii] s.ubstantivo f.eminino. Mancha borrão nódoa mácula cicatriz vestígio

[iii] maybe lembrança confissão esclarecimento

[iv] ária em sigilo

[v] Formato de número:

[vi] Marca personalizada:

[vii]

[viii]

[ix] Iniciar em:

[x]

[xi]

[xii]

[xiii]

[xiv] Aplicar alterações:

[xv] .

 

 



f podia ser rodapé



[i] Sabe o que acontece com você no tempo da delicadeza?

[ii] No que se converte em... que seria

[iii] O que me chama e chama do ente

[iv] Lavanda nos olhos infames

[v] ínfimos

[vi] É o que se parte como o vento na alma do medo

[vii] Que alcança o tempo da idade mais certa

[viii] Que enruga o que dorme no ventre

[ix] Do que nunca veio entre os labirintos

[x] Cabelos longos do cometa que foi engolido

[xi] Assim como a bala soft vermelha

[xii] Incorruptível que compõe o sol da mandala

[xiii] E se põe no que cala

[xiv] Entala

[xv] Útero

 

(Retirados do livro Sobre nossas línguas a carne das palavras)