Fragmentos
Miragem
(Antologia Pontagrossense)
Perdido nas ardencias de um deserto
Caminha desditoso peregrino,
Corpo cansado, com andar incerto
Procura o ignoto rumo do destino
Divisa apenas o horizonte aberto;
Ceu e areia. De súbito, o beduíno
Vê ao longe uma cidade. Corre certo
De alcanca-la e ouve até o som de um sino.
Os olhos não desprende da paisagem
Que se esfuma e se some mais adiante...
Vendo que tudo aquilo éra miragem
Cai sem forças... Assim como o viandante,
Corremos nos encalços de uma imagem
Que foge... foge e já se esvai distante!
Finados
(Antologia Pontagrossense)
Ó cruz das almas,
Cruz da saudade
Velam-te os braços
Rosas e lírios
Presos em braços
De roxas fitas...
Ardem os círios
Num mar de luz,
Ondas de cera
Ao pé da cruz
Saudade acerba, os que te cercam, no peito
Guardam, lembrando os mortos na solidão...
Talvez sem vela, sem flor, sem pleito
Algum, abandonados lá no ermo chão
Ó meu Senhor,
Que numa cruz
Pregado foste
Da-lhes a Luz
Do teu perdão.
Lutáram tanto
Num mundo vão
Cheio de pranto.
Conduz, Senhor,
Conduz os mortos
Para o caminho
Da Redenção!
Consolação
(Antologia Pontagrossense)
Cegou-lhe a luz dos olhos o Senhor,
...E clareou su’alma ardente e o coração.
E pelo mundo afora, com ardor,
Saulo seguiu, pregando a religião.
– A semente – diz ele – jaz no chão,
Inerte, pequenina e inda sem côr;
Não tardará, porém, a aparição
Da planta, abrindo o solo, com vigor
Impelida para o alto! Assim tambem
O corpo jaz inerte, frio, sem vida
Sob a terra feral; a alma porem
Desponta para o ceu, fortalecida
Sobe. ascende triunfal para o infinito,
Cumprindo o fado que lhe foi escrito!