Fragmentos
Rosa murcha
Recobra o viço meiga flor de um dia
Como o sol brilha matizando o chão;
Recobra o viço, a teus lares volta,
Que o exílio é triste, pois eu já senti!
Vem ver teus bosques como estão tão verdes
Como o sol brilha matizando o chão;
Vem modular-me: -inda cantam aves...
Rosa só minha, de fatal condão!
Ai! vem ao menos enfeitar-me a fronte
Quando na tumba eu jazer um dia;
Vem modular-me: -Inda cantam aves...
O céu tem inda perenal magia!
Vem! que meu estro emurchecido expira
Sem luz, sem seiva que lhe dê vigor,
Vem, rosa minha, no sepulcro ao menos
Ornar-me o seio com sentido amor!
O poeta
O poeta é a flor que desabrocha túmida
Ao sol da vida que dá luz ao val
É o orvalho doce de gentil aurora
Em tímido rosal!
É o círio ardente de uma crença santa
Que o mundo aponta ao descair do dia
É um 'alma crente que se une aos anjos
Em mágica harmonia
O poeta é o gênio que dá vida à terra,
Dá voz à brisa, dá perfume ao mar!
É o cisne lindo que desprende as asas
Em trêmulo ansiar!...
PARÓDIA
Luar fagueiro
Saudosa calma!
Propicia noite
Pr'a os sonhos d'alma!
Estrela santa
De meus alvores
Me aclara a vida
Com teus fulgores!
Bem vês que choro
Sem luz, nem guia!
Me beija um dia
Na lousa fria!
Aí bem calma
Sorrindo ainda,
Terei teus beijos
Na fronte linda!
Lírio branco
O sol desmaia... pensativas auras
Giram nas doces solidões do céu!
Floresce, ó lírio, meiga flor, floresce
Por entre as dobras do sedoso véu!
Esparge aromas, matinais orvalhos
Aos tênues raios de bendita aurora!
Abre teu cálix que o langor definha,
Enfeira os pratos da lasciva Flora!
O sol desmaia... como é doce a vida
Por entre sombras rebentando à flux!
Floresce, ó lírio, que contigo ainda
Pisarei mundos de encantada luz.
Minh'alma é o sopro da gemente aragem
Que vai perdida soluçar no mar!
Dá-lhe o perfume de tuas folhas alvas,
Enquanto o tempo não as vem mirrar!
Minh'alma é o eco que na serra vive
Por entre brumas a gemer sem fim!
Desperta os ecos, meiga flor, desperta,
Que terás hinos de tristeza... assim!...
(Retirados da obra: Poesia, 2001)