Fragmentos
SORRISO SEM NOME
Ontem um menino aprendeu a andar de bicicleta com cinco anos. Pela primeira vez na vida eu vi um menino com aquele sorriso sem nome pedalando um rosto de cinco anos. Também os pneus sorriram na calçada. E dois amiguinhos também sorriram de bicicleta. Aquele sorriso não tinha nome, mas continha o rosto dos três. Acho que entre crianças há mais amigos. Entre adultos vai ficando bem mais longe pedalar a vitória alheia.
EXPERIMENTO
Deito de costas no jardim que minha residência não comporta. Fecho os olhos e visualizo-me micróbio para sentir-me galáxia. Se é morte, sonho ou desmaio, o mundo não tá nem aí. Se amanheço sol, estrela ou verme, depende do meu olhar. E, se nada vejo, desapareço sozinha.
(Retirado da obra: Nervuras do silêncio, 2005)