Fragmentos
TEMOS TEXTOS EM
CENTRO PARANAENSE FEMININO DE CULTURA. Um século de poesia: poetisas do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado, 1953.
SANTOS, Pompília Lopes dos. Sesquicentenário da poesia paranaense. Curitiba: Lítero-Técnica, 1985.
CENTRO PARANAENSE FEMININO DE CULTURA. Mulheres escrevem. Curitiba: Visagraf, 1997.
Felicidade
Felicidade,
esquiva e bela,
tenha-te comigo,
desde o dia
em que te vi acenar.
És meu bibelô de porcelana,
que toco de leve
para não quebrar.
Mimosa flor de estufa
que protejo dos ventos estranhos, para não desflolhar.
És meu orvalho da manhã
tênue e puro,
que não ouso tocar.
És enfim,
a água cristalina
que seguro
na frágil concha da mão,
num receio pungente,
de vê-la
por entre os meus dedos
escorregar...
GRALHA AZUL
Você conhece a gralha azul?
Um pássaro grande, bonito,
que vive no Sul?
Plumagem da cor do anil,
cabecinha negra de ébano;
alegre, barulhenta,gentil,
adora comer pinhão.
Come, come,
enche o papo,
o resto,
enterra no chão.
E tão gulosa é a matreira,
e tantos frutos esconde,
que quando vai comê-los,
não sabe mais onde.
Mas o tempo não é perdido:
-em se plantando tudo dá.-
e de cada fruto escondido,
nasce um pinheiro no Paraná.
SER AVÓ
Ser avó
é como ser criança.
Gozar de um mundo
de ternura e encantamento,
quando lhe é permitido,
sem saber porque,
de repente, esse brinquedo é proibido
É ser,
como o sedento,
bebendo felicidade
gota a gota,
sem poder, jamais,
saciar sua sede,
porque,
subitamente,
é lhe tirado
o pote da boca.
Ser avó
é a alegria magoada
de menina pobre,
que brinca
com a boneca alheia
É amar sem futuro,
na amarga certeza,
de que seu tempo esgotou.
Mas é também,
a alegria mansa de saber,
secretamente,
que através dos netos,
sua vida continua.