Fragmentos
Um brinde!
Poesia é uma Flor Bela que Espanca
fere, maltrata.
Poesia quando ataca provoca cirrose,
divórcio, neurose, taquicardia.
Poesia mata!
Por isso, os grandes poetas estão mortos.
Por isso, os poetas vivos são tão... tortos.
Só loucos, vivem a poesia em sua essência.
Em sã consciência, a hipocrisia desta vida é insalubre.
Arde feito urtiga e é mais fria
do que vodka que consumia Maiakowski.
Por isso eu ergo a taça, e faço um brinde:
A todos esses malditos seres
viscerados ao avesso,
vis citados, anônimos e abominados
que rabiscam a recitam seus manuscritos
nos botecos, sebos, saraus e feiras
livres prisioneiros da poesia.
Aos que publicam e são lidos,
e aos ficam empoeirados, empoleirados nas prateleiras,
criando teia, esperando que um dia alguém os leia.
Aos que travestem a poesia com barro,
tinta, efeitos visuais, acordes musicais
e expõem-se, nos bares da vida sem serem ouvidos.
Um brinde aos que partem cedo,
com medo de verem suas almas
sendo dissecadas por críticos estúpidos.
Poesia é de quem precisa dela, já dizia Neruda.
Se você não precisa,
não leia,
não ouça,
não toque!
Ela é como um feto:
Precisa do calor e útero
e não do frio bisturi de um obstetra.
E agora eu ergo outro brinde:
A todos aqueles que atuam à luz do dia,
nesse imenso palco,
de paletó, gravata, saia justa, salto alto
e esperam impacientes a aposentadoria
para enfim, maduros e isentos,
revelarem seu amor pela poesia.
A todos aqueles que,
entraram na fila errada,
e estão neste mundo por engano
só para diversão dos deuses.
Não escrevem, não cantam,
não esculpem nem declamam,
mas sentem, amam e acolhem
anonimamente a poesia em seus ventres.
Um brinde a todos os recipientes!
(Poema retirado de Talento Feminino de Prosa e Verso, 2002)